
Frequently asked questions
interview for Espaço Exibicionista Gallery - Septemmber 2018
1- Quem é Paula Rosa?
Quase cinco décadas de interrogações e reticências?...
2- Como defines o teu trabalho nas artes visuais?
É um trabalho em permanente actualização, como é, aliás, próprio do meu percurso como ser humano. São reflexões e emoções plasmadas num suporte.
3- De onde surgem as temáticas?
Nascem das minhas interrogações, preocupações e das abordagens que considero fundamentais e urgentes.
4- Cenas surreais, como sonhos, a preto e branco. Como surgem estas imagens?
É uma dinâmica fascinante que acontece, creio, num plano quase “insondável” e depois explode em formas, analogias, contradições, metáforas, alegorias ambiguidades, exactidões. Tudo, o que de aleatório ou estratégico advier num dado momento. Quase sempre, uma revelação para mim própria. Motivo pelo qual me deixo seduzir pela imagem “terminada”, mergulhando na sua interpretação – na interpretação de mim.
5- Misturas muitas técnicas. Como é este processo? Existe alguma regra? Algum limite?
Há toda uma dinâmica no acto de criar que me conduz a explorar todas as possibilidades e a transcender tudo. Tenho feito combinações improváveis e subvertido a função óbvia das ferramentas. Tudo é válido e útil, se servir uma intenção.
Componho muito em Photoshop, com recurso a imagens fotográficas (digitais, analógicas, pin-hole, fotogramas), pintura (em suporte digital ou tradicional), elementos que resultam da digitalização directa de texturas variadas e de objectos, gráficos vectoriais, imagens fractais, 3D, etc.
A existir uma regra seria a de não me impor quaisquer limites. A existir um limite, seria, inevitavelmente, a excepção à regra.
6- Para esta série de trabalhos elegeste o computador como ferramenta. Porquê?
Além da mente, é o que mais se assemelha a uma tela infinita. Gosto disso, em particular. Gosto também da possibilidade que oferece de fundir elementos de diversas proveniências. O computador é um fascinante conjunto de ferramentas, por assim dizer.
7- Quanto tempo, em média, demoras a realizar uma destas obras?
O todo, não consigo quantificar. Um tempo que inicia sem que eu saiba e que, por certo, terminará comigo. Pelo meio, para cada imagem, são necessários alguns meses de “materialização” num ambiente digital – qualquer coisa entre as 360 e as 420 chávenas de café, à razão de 6 ou 7 diárias.
8- Preto e branco, porquê?
Uma opção estética. Cores ou preto e branco, tal como as ferramentas, servem uma intenção (consciente ou inconsciente). Não sei se posso falar em “opção” neste caso particular. Surgiu tão naturalmente, sem que me perdesse em fórmulas e considerações. Fazendo agora esse exercício, acredito que, se elimino a cor, por exemplo, é porque a considero demasiado distrativa no universo dos conceitos que pretendo explorar. Desperta outras emoções. Afinal, conhecemos o mundo a cores, desde muito cedo. Nesse contexto, com a sua eliminação, creio que a abstração sai reforçada. O foco, nesta série de trabalhos, quero-o definitivamente no conteúdo. Em imagens nas quais utilizo as cores, faço-o exactamente do mesmo modo, servindo uma intenção, consciente ou inconsciente.
8- O que é a inspiração?
Misteriosa intermitência interior.
9- Como entendes a Arte?
Uma inquietação, simultaneamente agradável e incómoda, como cócegas na alma. Se as cócegas sobre a pele são uma espécie de autodefesa do corpo, as cócegas na mente serão como que uma autodefesa da alma (seja lá o que isso for). Creio que a arte tem a função catártica de purgar uma multiplicidade de emoções e transformá-las em algo elevado, que poderá ser transmitido numa linguagem universal.
10- Quem são as pessoas nas tuas imagens?
Reflexos.
11- Um futuro distópico?
Tópico!
12- Esta exposição tem soundtrack?
A minha vida tem. Música sempre, com sons e silêncios. Ouvi algumas coisas durante a criação destas imagens. Destaco Dead Can Dance e Hélder Bruno. “A Presença Serena e Terna” do meu querido amigo Hélder é uma presença constante na minha atmosfera de trabalho. Tem a magia de fazer fluir o pensamento e as emoções, de me recolocar num espaço que é o da minha humanidade e num tempo que realmente me importa - o momento presente.